quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Assim não dá! Cultivar a expulsão de alunos como rotina


No horário reservado para resolver questões burocráticas, aparece na sua frente um aluno que foi expulso da classe. Você acha que o melhor caminho é conversar com ele ou dar-lhe uma bronca e que isso vai resolver o problema. Que nada! Na semana seguinte, vem outro e depois outro. Além de atrapalhar a rotina e tornar a sua sala um lugar temido pelos jovens, a falta de atitude dos gestores para diminuir as expulsões de sala de aula pode tornar comum uma prática que deveria ser exceção. Em pesquisa realizada este ano em escolas do estado de São Paulo por Luciene Tognetta e Telma Vinha, da Universidade Estadual de Campinas, 82% dos alunos disseram que já foram expulsos ou viram algum colega sendo colocado para fora de aula por comportamento inadequado.
À escola cabe identificar e analisar os motivos de atitudes inadequadas por parte dos estudantes e dos professores e funcionários. Uma primeira medida é levantar questões como: é sempre o mesmo aluno que é convidado a se retirar da sala? Ou é determinado professor que tem o hábito de expulsar? Que atitude levou à exclusão? As respostas vão apontar os caminhos para a ação: caso seja sempre o mesmo aluno, vale investigar como estão o desempenho dele, a participação na aula e o relacionamento com os colegas. Se é um docente que tem por costume tomar essa medida, é preciso saber o que o incomoda e oferecer maneiras de resolver conflitos. Como é a postura dele durante a aula? Os alunos entendem as atividades propostas?
É bom lembrar que algumas regras de convivência precisam ser discutidas pelos alunos para que eles também se sintam responsáveis por cumpri-las. E os critérios para punições estão entre elas. A escola é um espaço educativo e as situações de resolução de conflitos são ricas para que os alunos aprendam valores e atitudes da boa convivência social.

O papel do conselho tutelar

O Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA, para os íntimos) completa 20 anos em 13 de julho e aqueles que se dedicam à Educação têm muito a comemorar: essa lei representa uma conquista e uma fonte de inspiração e constitui-se num valoroso aliado na formação de cidadãos. Não podemos esquecer que ela se tornou uma referência internacional, um exemplo de como qualquer país deve tratar suas crianças e seus adolescentes.

Apesar da excelência reconhecida, a falta de conhecimento do ECA ainda é uma realidade. Poucos gestores educacionais dominam seus conteúdos. A maioria tem apenas impressões genéricas, construídas em situações complicadas - como a exigência de matrícula, as constantes faltas de um aluno, a família que nunca comparece à escola, o estudante muito indisciplinado ou a presença de drogas na escola. Por infelicidade, o ECA só é citado quando se chega a situações-limite e os ânimos já estão exaltados. Como muitas vezes os responsáveis por fazer cumprir o ECA são os conselhos tutelares (CTs) - e as escolas têm baixa governabilidade sobre suas ações -, esses são vistos quase como invasores ou agentes que mais atrapalham do que ajudam. Contudo, nós, educadores, somos, por ofício, guardiões dos direitos dos estudantes, e as instituições que resguardam esses direitos (como os CTs) só podem ser nossas aliadas. Se não são, é sinal de que algo grave está acontecendo.
Sem dúvida, existem equívocos de várias partes. No que tange aos conselheiros, muitos erros são cometidos por causa da falta de familiaridade com o funcionamento das escolas. Não raro, eles não são especialistas em Educação e não acompanham com a profundidade necessária os debates elementares da área: projetos, programas, currículos etc. Até sem ter consciência disso, vez ou outra eles atropelam as escolas com algumas de suas atitudes, dando, por exemplo, opiniões sobre o conteúdo de determinada matéria ou sobre o relacionamento de uma professora com seus alunos sem ouvir os envolvidos ou ainda tomando partido de estudantes contra a direção antes de dialogar. Uma maior aproximação dos CTs com as equipes gestora e docente pode evitar ruídos nesse relacionamento.
Já da parte da escola, a falta de iniciativa tende a ser o principal motivo de desentendimentos. Vejamos um caso: quais ações são prontamente desencadeadas quando ocorrem cenas explícitas de agressão, deboche, discriminação e preconceito antes de essa prática virar uma rotina na instituição? A seriedade do assunto não pode deixar que esses atos rolem soltos e omitir-se é abdicar do papel educativo. Afinal, estamos ensinando aos jovens o que é (des)respeito. E nós, profissionais da Educação, muitas vezes sem saber o que fazer, acabamos por agir em algumas situações (como a do bullying) só quando cutucados pelo conselho.
Sem dúvida, os conselhos tutelares podem ser grandes aliados dos educadores se forem usados em favor do nosso trabalho na formação de crianças e adolescentes. Se a relação dos conselheiros com a escola não satisfaz aos anseios da sociedade, cabe a nós mudar esse rumo, em que o respeito aos estudantes seja uma tarefa coletiva entre conselhos tutelares, famílias e escolas.
Fonte: Revista Gestão Escolar
Juca Gil

É professor de Políticas Educacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
"Se fosse ensinar a uma criança a beleza da música...

não começaria com partituras, notas e pautas.
Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe contaria
sobre os instrumentos que fazem a música.
Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria
que lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas.
Porque as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas
para a produção da beleza musical. A experiência da beleza tem de vir antes".
Rubem Alves

Ensino médio da rede pública terá aulas de educação financeira

Dicas simples de como gastar bem o salário ou a mesada, ajudar a organizar as despesas da família e evitar gastos desnecessários são lições que começam a fazer parte da rotina de estudantes de 450 escolas públicas do país.


A partir da próxima segunda-feira, 09, um projeto piloto de educação financeira, elaborado por órgãos reguladores do sistema e instituições privadas, será aplicado em colégios do ensino médio de São Paulo, do Rio de Janeiro, de Tocantins, do Ceará, do Distrito Federal e de Minas Gerais.
A ideia é inserir, nas aulas de português, matemática, sociologia e história, com apoio de material didático específico e um site na internet, informações sobre riscos e vantagens de compras à vista, a prazo, explicar como funciona o juro e como fazer um orçamento.
"O conteúdo será um tema transversal nas diferentes disciplinas, não será algo específico do conteúdo de matemática, tampouco uma disciplina a mais", explicou o superintendente da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), José Alexandre Vasco.
O curso completo será dado a alunos do segundo ano do ensino médio e vai durar um ano e meio. Além das aulas, o projeto inclui a participação dos pais por meio de workshops e da avaliação dos resultados por uma consultoria especializada, com acompanhamento do Banco Mundial (Bird).
Somente a etapa de avaliação custará R$ 1 milhão e envolverá mais 450 escolas onde o curso de educação financeira não será aplicado (para fins de comparação), totalizando 900 colégios no projeto - durante apresentação da iniciativa, não foi informado o valor total da iniciativa.
Os professores que levarão esse conteúdo para sala de aula participaram de capacitação durante o primeiro semestre do ano e terão suporte para as aulas. Eles são de escolas que já participavam de outros projetos com os organizadores e se candidataram voluntariamente.
Aulas de educação financeira fazem parte do currículo escolar de 60 países, entre eles, Holanda, Japão e Estados Unidos. Para o representante do Banco Central no projeto, José Linaldo, as informações vão ajudar a população a não se influenciar pelas armadilhas das propagandas ou do crédito fácil.
A próxima etapa do projeto prevê a extensão do curso para o ensino fundamental em 2011. "Estamos elaborando o material didático", contou José Alexandre Vasco.